PACAP 4
2020
Curadoria de João dos Santos Martins
De Janeiro a Julho de 2020
Pensar um plano de estudos é sempre um conflito entre o ideal e o possível, entre uma certa imposição de uma forma de ver e estar no mundo, e a criação de condições para originar outros mundos. Nas palavras de Rabindranath Tagore, a educação não serve senão para dar resposta e nos livrarmos da “agressividade suicida do egoísmo colectivo”. Este programa não é mais do que isso. Focado na experimentação, procurará desafiar os paradigmas da dança e da coreografia contemporâneas através da activação de um posicionamento crítico e discursivo, ainda que sempre comprometido, para com essas práticas. Mas é sobretudo pensado como um tempo e um lugar protegidos para encorajar todxs xs participantes a desenvolver e analisar a sua prática artística num ambiente colectivo, intelectual e artisticamente estimulante.
Neste programa não há distinção entre aulas ‘técnicas’, de ‘pesquisa’ ou outras que tais. Partimos do princípio de que não pode haver distinção entre conhecimento prático e teórico e que é essa mesma divisão que induz uma alienação no próprio trabalho. O programa baseia-se unicamente nas propostas dxs artistas e intervenientes que passarão tempo com xs participantes potenciando experiências comuns de questionamento e transformação. Xs intervenientes convidadxs partilham a necessidade de desmistificar as dicotomias corpo/cabeça, acção/pensamento, prática/teoria, procurando articular o discurso e a prática como partes integrais e integrantes de modos de fazer e pensar, e não como pólos opostos.
Acreditamos na prática da dança como um suporte para a prática artística que está em permanente diálogo com outros suportes e com as genealogias da história da arte em geral. Procuraremos um diálogo com esses vários ‘suportes’ e xs agentes que os praticam através de visitas a estúdios de artistas locais e parcerias com estruturas e instituições circundantes que estabeleçam a ponte com o contexto das artes local. E como o fazer da arte está sempre em diálogo com os seus modos de apreensão, o programa é continuamente reforçado com visitas a exposições, visionamento de filmes, ida a espectáculos e conferências de agentes de vários domínios.
Acreditamos que parte do labor artístico é necessariamente autodidacta. Nesse sentido, privilegiaremos o cultivo de um espaço de partilha, de colaboração e trabalho em grupo de forma a construir conhecimentos e experiências comuns que incitem xs participantes a aprofundar as suas práticas, individual ou colectivamente. Durante o período do programa serão disponibilizados estúdios para que xs participantes possam desenvolver os seus trabalhos cujos processos serão partilhados ao longo de seis meses. No final do ciclo todxs xs participantes deverão apresentar publicamente esse trabalho, articulando assim, como refere Rancière, “os modos de fazer, as suas formas de visibilidade correspondentes e as formas possíveis de pensar as suas relações”. / João dos Santos Martins
Biografia
João dos Santos Martins (Santarém, 1989) é um artista que trabalha a partir e através da dança e do suporte coreográfico. Começou por estudar na Escola Superior de Dança, em Lisboa, e na P.A.R.T.S., em Bruxelas, e concluiu os seus estudos coreográficos entre o exerce, em Montpellier, e o Instituto de Estudos de Teatro, em Giessen.
Desde 2008, tem articulado a sua prática entre a produção de peças e a colaboração como bailarino com outros autores como Ana Rita Teodoro, Eszter Salamon, Moriah Evans e Xavier Le Roy. O seu trabalho é caracterizado por uma diversidade de formatos e dispositivos que investem na produção de conflitos entre o sujeito que dança e o objecto dançado. As suas peças são geralmente desenvolvidas em colaboração com outros artistas como em Antropocenas (2017), com Rita Natálio e Pedro Neves Marques, e Onde Está o Casaco? (2018), com Cyriaque Villemaux e Ana Jotta.
Desde 2017 tem expandido a sua prática a outros formatos paralelos. Organizou o ciclo Nova—Velha Dança em Santarém, com espectáculos, workshops, conversas e exposições; criou, com Ana Bigotte Vieira, um dispositivo para a historização colectiva da dança em Portugal — Para Uma Timeline a Haver — e fundou um jornal — Coreia — dedicado a produzir discursos sobre as artes e os artistas em especial relação com a dança.
Professores e Artistas Convidados
Ana Jotta (PT), Ana Pi (BR), Ana Rita Teodoro (PT), Antonia Baehr (DE), Christine de Smedt (BE), Christophe Wavelet (FR), Chrysa Parkinson (US/SE), Eszter Salamon (HU), Fred Moten (US), Joana Sá (PT), João Fiadeiro (PT), Latifa Laâbissi (FR), Moriah Evans (US), Paula Caspão (PT), Pedro Barateiro (PT), Rita Natálio (PT), Scarlet Yu (HK), Vera Mantero (PT), Xavier le Roy (FR).
Participantes
Alina Ruiz Folini (AR), Aline Combe (FR), Bianca Zueneli (IT), Emily Barasch (US), Isadora Alves (PT), Isis Andreatta (BR), Julián Pacomio (ES), Laura Ríos (CU), Laure Fleitz (FR), Leire Aranberri (ES), Maria Abrantes (PT), Marina Silva / Dubia (BR), Natália Mendonça (BR), Randy Reyes (US/GT), Sara Vieira Marques (PT), Suiá Ferlauto (BR).
Apresentações
- Ciclo de apresentações em Lisboa, previstas acontecer em Julho de 2020, inicialmente pensadas num ciclo de programação na Fundação Calouste Gulbenkian, mas apresentadas no Espaço da Penha e no Espaço Alkantara.
Actividades PACAP4
Apoios e Parcerias
Apoio Financeiro: Fundação Calouste Gulbenkian | Apoios: O Rumo do Fumo | ALKANTARA | O Espaço do Tempo | Estúdios Victor Córdon