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Workshop CTR
O espaço enquanto corpo

Workshop CTR
O espaço enquanto corpo

De 1 a 5 de abril, das 14h00 às 18h00

Sensibilidade às condições iniciais I
Uma introdução à Composição em Tempo Real: o espaço enquanto corpo

 

Neste workshop João Fiadeiro contará com a colaboração do arquiteto e artista João Gonçalo Lopes de forma a criar as condições iniciais para a prática da Composição em Tempo Real. O jogo começará sempre, como protocolo inicial, a partir de um “espaço preparado” (um pouco à imagem do “piano preparado” de John Cage), que funcionará enquanto território de exploração e experimentação da Composição em Tempo Real. Esta preparação criará uma topografia espacial que, através das obstruções e das restrições criadas, condicionará a experiência da improvisação. Encontrar a experiência de liberdade no interior de um ambiente-partitura composto por restrições, ao mesmo tempo que se desenvolve relações autónomos e inter-dependentes com quem joga (humanos e não-humanos), será o “objeto de estudo” deste workshop.

Informações

Selecione cada uma das secções abaixo para tomar conhecimento de todas as especificações do workshop e do processo de inscrição.

A quem se destina

Este ciclo de workshops é direcionado a artistas-investigadores com experiência em improvisação (em dança, performance ou teatro).

Número máximo de participantes: 16 pessoas.

Horários

Workshop da Páscoa: De 1 a 5 de abril de 2024, das 14h00 às 18h00.

Local

Forum Dança / Espaço da Penha
Travessa do Calado, 26B
1170-070 Lisboa

Taxa de participação

    • Inscrição: 100 € (cem euros);
    • Desconto de 10%: para pessoas que frequentam, ou que já frequentaram cursos de longa duração do Forum Dança (CGPAE/PEPCC/etc.);
    • Desconto de 25%: para pessoas que frequentam, ou que já frequentaram o PACAP.

Pré-Inscrição

A pré-inscrição é efetuada através de formulário disponível no nosso site e será validada após receção do comprovativo de pagamento, que deverá enviar para o nosso email.

Processo de inscrição

  1. Faça a sua pré-inscrição on-line no formulário indicado para o efeito;
  2. Aguarde o nosso email com as instruções de pagamento;
  3. Proceda ao pagamento da sua inscrição, conforme indicado no email enviado;
  4. Envie-nos o respetivo comprovativo de pagamento para o nosso email;
  5. A sua inscrição só é validada após a receção do seu comprovativo.

Formulário

Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

As inscrições estão encerradas.

Contextualização

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Composição em Tempo Real

Composição em Tempo Real é uma designação utilizada em inúmeras interações e contextos artísticos, sendo mais usual a sua utilização no campo da música eletrónica e na sua relação com a ciência da computação. No campo da dança contemporânea é utilizada por diversos artistas, como sinónimo da prática da “improvisação” (um termo de certa forma “sequestrado” pelo senso comum, como uma experiência arbitrária, desorganizada ou caótica), de forma a enfatizar a complexidade e o rigor envolvidos no ato de improvisar, sobretudo quando apresentada de forma pública.

 

Quando, nos anos noventa, João Fiadeiro deu início à sua investigação em torno da improvisação, a expressão mais utilizada para reivindicar esse rigor era a expressão “composição instantânea”. De forma meio intuitiva, João Fiadeiro decidiu adotar a noção de “composição em tempo real” para designar a sua investigação, porque era o termo que correspondia melhor à experiência de tempo expandido, distendido e plástico que ele experimentava quando “colidia” com o desconhecido, seja quando improvisava, seja quando compunha. Mais tarde conseguiu formular melhor essa resistência ao termo “instantâneo”, quando percebeu que uma parte importante da hipótese que colocava enquanto investigador, sobre a experiência do performer na sua relação com o tempo, sustentava-se na premissa de que a ideia de “instante” é uma construção artificial do ser humano, que decidiu, a partir do seu interesse (e proveito) próprio, que um instante é a fatia mais fina do tempo e que os momentos sucessivos substituem o anterior.

 

Mais recentemente, ao aceder ao pensamento de autores que estudam o conceito de tempo, essa convicção ganhou ainda mais corpo. Nomeadamente através da formulação de “tempo operativo” que Giorgio Agamben utiliza em “O tempo que resta”. Agamben apoia-se no linguista Gustave Guillaume (1883-1960) que afirma (no seu livro Temps et verbe) que “toda a experiência mental, por mais rápida [que seja], necessita de um certo tempo, que pode ser brevíssimo, mas nem por isso menos real”. Aquilo a que Guillaume define como “tempo operativo” (e João Fiadeiro como “tempo real”) é exatamente “o tempo que a mente emprega para realizar uma imagem-tempo”. Agamben complementa este raciocínio quando diz que “um exame atento dos fenómenos da linguagem mostra que as línguas organizam os seus sistemas verbais, não segundo o esquema linear precedente (…) mas através da referência da imagem construída no tempo operativo da sua construção.”. O tempo operativo (ou, como diria Fiadeiro, “tempo real”) “não é nem a linha – representável mas impensável – do tempo cronológico, nem o instante – igualmente impensável – do seu fim, e muito menos um segmento extraído do tempo cronológico (…). É antes o tempo operativo que urge no tempo cronológico e o trabalha e transforma a partir do interior, tempo do qual precisamos para fazer findar o tempo – nesse sentido: o tempo que nos resta.”.

 

Percebe-se, pelo que foi dito, que ao se debater sobre o termo de “instante” ou de “tempo real” para designar o tipo de “composição” que está aqui em jogo, João Fiadeiro não tem como referência o tempo partilhado entre improvisador e espetador, mas o tempo interno do performer, na gestão da experiência que medeia a identificação, a circunscrição e o processamento dos estímulos; a seleção e escolha das possibilidades de relação; e a sua consequente manifestação em forma de gesto e ação.

 

A utilização da expressão “Composição em Tempo Real” utilizada por João Fiadeiro para designar a sua investigação e prática, tem que ser entendida à luz desta reflexão.

João Fiadeiro

Forum Dança | PACAP 5 - João Fiadeiro
João Fiadeiro © Ana Viotti

João Fiadeiro (1965) pertence à geração de artistas que surgiu no final dos anos oitenta em Portugal e deu origem à Nova Dança Portuguesa, movimento fortemente influenciado pelo Judson Dance Theatre na América e pela cena New Dance na Europa.

 

Entre 1990 e 2019 foi diretor artístico do Atelier RE.AL, espaço que teve um papel preponderante no desenvolvimento da dança contemporânea e de iniciativas transdisciplinares em Portugal, tanto no âmbito da arte como entre arte, ciência e sociedade. Entre os projetos organizados por esta associação, destacam-se o LAB/Moving Projects (1992-2006), uma plataforma de work in progress de artistas emergentes; “Restos, rastos e traços” e “G.host” (2009-2011), dois programas de residência com foco em práticas de documentação para a arte contemporânea; e o projeto AND_Lab (2011-2014), um laboratório de pesquisa que trabalha a relação entre ética, estética e política, estão entre as iniciativas de maior impacto na comunidade.

 

João Fiadeiro tem feito extensas digressões pela Europa, América do Norte e América do Sul com os seus trabalhos a solo e em grupo. As suas peças navegam entre disciplinas (performance, dança e teatro), contextos (teatros, museus ou site-specific) e formatos (coreografias, happenings ou palestras-performances), numa tentativa de manter uma “sensibilidade radical” face ao presente e manter-se vigilante contra qualquer forma de estagnação ou perda do discurso crítico.

 

Entre 1995 e 2003 colaborou com os Artistas Unidos, companhia de teatro sediada em Lisboa, onde foi responsável pela movimentação dos atores em peças de Silva Melo, Shakespeare, Brecht, Goethe, etc. encenou peças de Samuel Beckett (Waiting for Godot), Sarah Kane (Psychosis 4’48’‘) e Jon Fosse (Nightsongs).

 

Paralelamente ao seu trabalho como coreógrafo, encenador e curador, João Fiadeiro estudou e praticou de forma intensa o Contacto-Improvisação nos anos 90, o que o levou a prosseguir e sistematizar a sua própria investigação sobre improvisação sob a designação de Composição em Tempo Real. Esta investigação, que começou por ser uma ferramenta de apoio às suas próprias práticas criativas, tem desde então sido utilizada por investigadores das áreas das artes e das ciências (provenientes de áreas tão diversas como a antropologia, as ciências dos sistemas complexos ou a economia), como plataforma teórico-prática para o estudo de decision-making, representação e colaboração. Este trabalho levou-o a lecionar em diferentes espaços independentes na Europa e América do Sul (Brasil, Uruguai, Argentina e Chile) e a conduzir workshops nos mais importantes programas de mestrado e escolas da Europa relacionados à dança contemporânea como PACAP/Forum Dança; EXERCE Master, Mestrado em Prática Artística e Cultura Visual no Museu Rainha Sofia; Programa SoDA MA; Estudos Performativos na Universidade de Hamburgo; Mestrado em Coreografia de Amsterdão; Mestrado em Teatro DasArts; a.pass_estudos avançados de performance e cenografia; MA Theatre Academy da University of the Arts Helsinki; Villa Arson; Centre National de la Danse, etc.

 

A ferramenta Composição em Tempo Real tem desde então alargado a sua aplicação fora do campo artístico com iniciativas como “Soft Skills for Hard Decisions”, concebida em colaboração com o economista António Alvarenga e aplicada em departamentos de recursos humanos de fundações; ou a disciplina “Estigmergia Social” concebida para o programa de doutoramento da Universidade ISCTE em Lisboa com o cientista de sistemas complexos Jorge Louçã.

 

Em 2018 João Fiadeiro publicou o livro “Anatomia de uma Decisão” onde sintetizou a sua pesquisa ao longo da vida sobre Composição em Tempo Real e em 2019 co-coordenou (com Romain Bigé) a exposição Drafting Interior Techniques na Culturgest, a primeira retrospetiva realizada sobre o trabalho e legado de Steve Paxton.

João Gonçalo Lopes

João Gonçalo Lopes
João Gonçalo Lopes © Gustavo Ciríaco

João Gonçalo Lopes é um arquiteto que trabalha em várias disciplinas entre a arte, o design e a educação. Tendo tido uma experiência diversificada em diferentes partes do globo, trabalha atualmente com uma abordagem prática em escalas que vão desde o design urbano, a instalações artísticas ou design de mobiliário.

 

Com uma atitude baseada no contexto, o seu trabalho está enraizado em processos de colaboração e de construção de comunidades, centrando-se na ecologia dos materiais como meio de alcançar realidades conscientes e complexas.

 

Valoriza espaços e objectos que existem como facilitadores da experiência. Para tal, utiliza um conjunto alargado de ferramentas que provêm de diferentes disciplinas, sejam elas sociais, políticas, artísticas, construtivas ou espaciais.

 

Mais informação, aqui.